Dr. Fernando Valério - Médico
DOENÇA CELÍACA E ACOMPANHAMENTO MÉDICO!
Muito sobre a doença celíaca (DC) se concentra no seu DIAGNÓSTICO, o que é muito justo, visto que somente 15% dos pacientes celíacos estão diagnosticados, e é preciso que se encontre uma causa para os sintomas que tantos prejuízos trazem a estas pessoas.
Mas é preciso também estar atento aos celíacos já diagnosticados.
TODA DOENÇA CRÔNICA REQUER ACOMPANHAMENTO CLÍNICO!
Atualmente, o único tratamento eficaz para a DC é evitar completamente o GLÚTEN na dieta. A dieta sem glúten leva à melhora significativa dos sintomas, normalização dos anticorpos produzidos pela doença e melhora da qualidade de vida.
A dieta isenta de glúten e sem contaminação é de difícil seguimento, com custo mais alto e socialmente restritiva, o que pode trazer baixa satisfação aos celíacos com o tratamento necessário. Isto faz com que alguns pacientes se arrisquem em alguns momentos, como em reuniões de família e amigos, em restaurantes não especializados em alimentos sem glúten ou em viagens. Este gerenciamento inadequado da dieta, seja intencional ou não, traz riscos e deve ser acompanhado.
A relação entre a quantidade de glúten ingerida e o desenvolvimento de sintomas e alterações intestinais não estão claramente definidos, e a quantidade exata de glúten que as pessoas com DC podem tolerar diariamente sem sofrer efeitos deletérios também não foi totalmente estabelecido. Em outros termos, é necessário entender o quão RIGOROSA a dieta sem glúten precisa estar!
Como a DC é uma condição inflamatória que afeta vários sistemas e órgãos, o respeito à dieta e acompanhamento médico regular reduzem os riscos de complicações nutricionais, doenças autoimunes associadas e de tumores malignos, condições estas que podem implicar no AUMENTO DE MORTALIDADE em celíacos.
Um estudo italiano mostrou mortalidade notavelmente mais alta (5 vezes maior que o esperado) em celíacos que não aderiram ou aderiram apenas parcialmente à dieta. E outros estudos também mostram outras complicações a longo prazo, como danos ósseos, alterações neurológicas, doenças autoimunes e tumores, por exemplo.
Erros na tentativa de manter uma dieta sem glúten também trazem riscos, como carências nutricionais e alterações metabólicas (obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes, aumento de colesterol).
Por isso é importante que pacientes celíacos, tanto crianças/adolescentes como adultos, estejam em acompanhamento clínico, com intervalos definidos de acordo com o tempo de diagnóstico, sintomas e evolução clínica. Médicos, nutricionistas e psicólogos fazem parte da equipe de acompanhamento.
E reforço, mesmo celíacos experientes precisam ser avaliados!
Como forma de exemplificar um dos protocolos de acompanhamento, compartilho com vocês o sugerido pela European Society for the Study of Coelicac Disease (2019).
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Lista de exames organizada pelos membros do Grupo Viva sem Glúten (Facebook), com base em sua própria experiência de acompanhamento com seus médicos e nutricionistas.
Exames periódicos para acompanhamento em DOENÇA CELÍACA:
- Dosagem do anticorpo Antitrasnglutaminase IgA - anual (serve para verificar se a dieta está sem bem feita ou se há anticorpos contra o glúten).
Se vc não fez a dosagem de imunoglobulina A - IgA (dosagem de IgA) - saiba que é necessário fazer. Esse exame é feito apenas uma vez para saber se a deficiência de IgA está presente. Se o resultado constatar essa deficiência será preciso sempre fazer a dosagem de antitransglutaminase IgG.
- Endoscopia digestiva alta com biopsia de duodeno: 1 vez por ano, até que haja normalização da mucosa intestinal (após o início da dieta sem glúten) e depois quando necessário.
- Colonoscopia - a cada 5 anos (caso haja casos de câncer de intestino na familia, esse exame deverá ser feito a cada 2 ou 3 anos ou de acordo com a orientação do seu gastroenterologista).
- Densitometria óssea de corpo inteiro para adultos: deve ser feita na época do diagnóstico de Doença Celíaca e repetida 1 vez por ano, por 2 anos se houver osteopenia / osteoporose. Se estiver normal, seguir fazendo a cada 2 anos. Se alterado, repetir a cada 6 meses ou 1 ano, a depender da gravidade. * Deverá ser feito também em crianças.
Exames Semestrais:
- Hemograma completo
- Glicose em jejum
- Insulina de Jejum (fazer o cálculo de HOMA-IR e HOMA-Beta)
- Hemoglobina Glicada
- Ferro sérico
- Ferritina
- Transferrina
- Vitamina D (níveis ótimos nas doença autoimunes ficam acima de 60)
- Vitamina A
- Zinco sérico
- Vitamina K
- Enzimas do Fígado: TGO, TGP, Fosfatase alcalina e Gama GT
- Vitamina B12
- Homocisteína
- Ácido fólico
- Calcio sérico
- Magnésio
- Cortisol
- TSH, T3 e T4 Livre
- PTH (paratormônio)
- Proteína C Reativa Ultrassensível (PCR-US)
- Lipidograma
- Enzimas do Fígado: TGO, TGP, Fosfatase alcalina e Gama GT
- Ureia
- Creatinina
- Ácido úrico
Exames de investigação quando o paciente celíaco continua apresentando sintomas após adoção da dieta sem glúten:
Se houver deficiência de B12 persistente ou anemia, é necessário investigar gastrite atrófica autoimune e anemia perniciosa:
- Anticorpo antifator intrínseco
- Anticorpo anticélula parietal
Se houver presença de hipotireoidismo ou suspeita:
- Anticorpo antiperoxidase (anti-TPO)
- Anticorpo antitireoglobulina (anti-TG)
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