Publicado em 28 de setembro de 2012 no Grupo Viva sem Glúten - Facebook -
Atualizado em 2016
Todos nós celíacos ou que adotamos uma dieta sem glúten concordamos com uma coisa - nossa alimentação é mais cara do que a da maioria da população. Ninguém aqui compra alimentos sem glúten caros apenas por diversão ou por não ter nada melhor para fazer. Quando ficamos felizes em poder ter acesso a produtos sem glúten saborosos mesmo que muito caros, não estamos dizendo que somos "alienados" e não vemos o que está a nossa volta. Só estamos felizes por poder comer algo igual ou parecido com o que já comemos um dia na vida. Ficamos felizes assim também quando conseguimos que uma receita dê certo e seja aceita por nossos familiares e amigos.
Mas é preciso entender o porque nossa alimentação é mais cara:
1 - se um pão de sal comum usa 3 ou 4 ingredientes, nossos pães podem ter até 18 ingredientes;
2- o trigo tem carga tributária subsidiada, pois é a base da alimentação de 99% da população brasileira, fazendo com que os alimentos produzidos com ele tenham preços acessíveis e mais baratos que frutas e legumes, permitindo que possam ser comprados em qualquer esquina, com data de validade extensa e em quantidade abundante;
3- Nossos produtos são especiais - além do número de ingredientes, a empresa que produz tem responsabilidade dobrada por causa do controle sobre os riscos de contaminação cruzada por glúten, aumentando o trabalho com limpeza de ambiente, máquinas, capacitação dos funcionários; o fornecimento de matéria prima é feito por empresas que dão garantias de que não tem traços de glúten, etc., o que nem sempre será daquela empresa que tem o preço mais competitivo no mercado;
4- A maior parte das empresas que produzem sem glúten estão localizadas no sul do país - os produtos viajam centenas de quilômetros para chegar na nossa casa;
5- Por maior que seja o investimento em pesquisa e tecnologia, ainda estamos engatinhando nessa produção sem glúten e o sabor e textura dos alimentos ainda estão longe de serem iguais aos que tem glúten;
6 - Para tentar chegar a uma textura mais aceita, nossos produtos são mais calóricos, com mais gordura, açúcar e coadjuvantes (gomas, fibras, pectina, lecitina, etc.) do que os similares com glúten;
7- Não tem conservantes naturais (o glúten também tem esse papel de ajudar a conservar) e por isso precisam de geladeira ou tem validade curta - o lojista gasta mais com energia elétrica, equipamento e espaço dentro da loja e ainda perde o produto se ele não tiver saída rápida;
8 - Quem faz ficha técnica das preparações sem glúten sabe a enorme variação a que esses produtos estão sujeitos, seja na quantidade de líquidos, seja pela umidade do ar e temperatura ambiente, seja na diferença de textura de um lote de farinhas para outro, e assim por diante.
Poderíamos ficar aqui escrevendo sem parar sobre esse assunto, listando mais uma série de razões, mas na verdade o que importa é que uns podem comprar produtos da Schar, outros podem comprar Casarão ou Aminna, e muitos não podem comprar e nem tem acesso a nada disso. Comem arroz com feijão, legume e verdura no café da manhã, almoço e jantar e pipoca e fruta nos lanches - se tiverem gás ou lenha pra cozinhar.
O que nós celíacos podemos fazer para mudar essa situação ?
Nossa LUTA deve ser pelo Direito Humano a Alimentação Adequada (DHAA) de TODOS os celíacos desse país. Como fazemos isso ?
Poderia ser:
- apresentando projetos de lei que possam diminuir a carga tributária de alimentos para fins especiais (isso não é para comprar coxinha e pizza, mas para termos produtos saudáveis e considerados essenciais na alimentação das pessoas);
- apresentando projetos de lei, garantindo uma ajuda mensal para as famílias de celíacos carentes desse país...
O que não podemos fazer é apenas reclamar e ponto final. Seja mobilizando as pessoas, seja participando de algum grupo ou associação de celíacos, seja participando dos Conselhos de Saúde, Segurança Alimentar, Alimentação Escolar, etc., é só assim que vamos mudar o que existe hoje.
Sugestão de leitura - é um texto da Dra. Cynthia Schuck de 2009, mas ainda reflete a nossa atualidade:
https://issuu.com/revistavidasemgluten/docs/semgluten
https://issuu.com/revistavidasemgluten/docs/semgluten
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