segunda-feira, 5 de maio de 2014

O valor dos alimentos sem glúten - por que são tão caros?


28 de setembro de 2012 - Grupo Viva sem glúten - facebook

Por Raquel Benati




Todos nós celíacos ou que adotamos uma dieta sem glúten concordamos com uma coisa - nossa alimentação é mais cara do que a da maioria da população. Ninguém aqui compra alimentos sem glúten caros apenas por diversão ou por não ter nada melhor para fazer. Quando ficamos felizes por poder ter acesso a produtos sem glúten saborosos, não estamos dizendo que somos "alienados" e não vemos o que está a nossa volta. Só estamos felizes por poder comer algo igual ou parecido com o que já comemos um dia na vida. Ficamos felizes assim também quando conseguimos que uma receita dê certo e seja aceita por nossos familiares e amigos.

Mas é preciso entender o porque nossa alimentação é mais cara:
1 - se um pão de sal comum usa 3 ou 4 ingredientes, nossos pães podem ter até 18 ingredientes, como é o caso do lindo pão francês que a Leila Zandona criou;
2- o trigo tem carga tributária subsidiada, pois é a base da alimentação de 99% da população brasileira, fazendo com que os alimentos produzido com ele tenham preços acessíveis e mais baratos que frutas e legumes, permitindo que possam ser comprados em qualquer esquina, com data de validade extensa e em quantidade abundante;
3- Nossos produtos são especiais - além do número de ingredientes, a empresa que produz tem responsabilidade dobrada por causa da contaminação cruzada por glúten, aumentando o trabalho com limpeza de ambiente, máquinas, capacitação dos funcionários; o fornecimento de matéria prima é feito por empresas que dão garantias de que não tem traços de glúten, etc., o que nem sempre será da empresa que tem o preço mais competitivo no mercado;
4- A maior parte das empresas que produzem sem glúten estão localizadas no sul do país - os produtos viajam centenas de quilômetros para chegar na nossa casa.
5- Por maior que seja o investimento em pesquisa e tecnologia, ainda estamos engatinhando nessa produção sem glúten e o sabor e textura dos alimentos ainda está longe de ser igual ao que tem glúten;
6 - Para tentar chegar a uma textura mais aceita, nossos produtos são mais calóricos, com mais gordura e açúcar do que os similares com glúten;
7- Não tem conservantes naturais (o glúten também tem esse papel de ajudar a conservar) e por isso precisam de geladeira ou tem validade curta - o lojista gasta mais com energia elétrica, equipamento e espaço dentro da loja e ainda perde o produto se ele não tiver saída;

E assim por diante - poderíamos ficar aqui escrevendo sem parar sobre esse assunto.

Uns podem comprar produtos da Schar, outros podem comprar Casarão ou Urbano, e muitos não podem comprar e nem tem acesso a nada disso. Comem arroz com feijão, legume e verdura no café da manhã, almoço e jantar e pipoca e frutas nos lanches - se tiverem gás ou lenha pra cozinhar.

O que nós celíacos podemos fazer para mudar essa situação ?

Nossa LUTA deve ser pelo Direito Humano a Alimentação Adequada (DHAA) de TODOS os celíacos desse país. Como fazemos isso ?

Poderia ser:
- apresentando projetos de lei que possam diminuir a carga tributária de alimentos para fins especiais (isso não é para comprar coxinha e pizza, mas para termos produtos saudáveis e considerados essenciais na alimentação das pessoas);
- apresentando projetos de lei, garantindo uma ajuda mensal para as famílias de celíacos carentes desse país...

O que não podemos fazer é reclamar e ponto final. Seja mobilizando as pessoas, seja participando de algum grupo ou associação de celíacos, seja participando dos Conselhos de Saúde, Segurança Alimentar, Alimentação Escolar, etc., é só assim que vamos mudar o que existe hoje.


5 comentários:

  1. Olá. A luta frente a tributação deve ser como um todo, pois os impostos nos empobrece amplamente.

    No que tange a matéria prima, o saco de 25kg de farinha de arroz, por ex, que substitui em grande parte a de trigo, custa no atacado R$ 2 a R$ 4 a mais, o que em hipótese alguma justifica os empórios venderem a farinha de arroz a R$ 10,00 o kilo, estando o trigo a R$ 3,00. Isso nada tem haver com impostos.

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    1. Tem a ver com o cuidado que é exigido do produtor quanto à isenção de traços de glúten nessa matéria prima - plantio longe de campos de trigo, maquinário e locais de armazenamento separado, transporte e beneficiamento em locais exclusivos e assim por diante. O preço final envolve um conjunto de fatores. Onde moro compro a farinha de arroz com preços variando de R$ 4,00 a R$ 8,00 o quilo.

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  2. Não tinha me atinado ainda sobre essa questão do preço. Recentemente tive um diagnóstico de intolerância a glúten e estou recebendo informações do meu médico porém também tenho procurado cardápios que possam me ajudar, como os desse website. Mas não tinha me ligado ainda que alguns alimentos sem glúten tem essa alteração no preço. Vou me atentar a isso.

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  3. Muito bom sua matéria, bem informativa e sem rodeios, parabéns!
    No nosso site eu trago alguns alimentos com e sem gluten, e explico um pouco sobre o mesmo e a doença celíaca. Confira lá depois.

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  4. É uma questão muito difícil para aqueles que são celíaca, eu mesma falo da parte da minha filha de 17 anos descobrimos que ela não pode comer o gluten só no produto de lanche dela é o preço da carne e peixe para um mês na minha. casa está mesmo muito complicado.

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